segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

CLÁSSICOS DO FUTEBOL BRASILEIRO - O PRIMEIRO FLA X FLU 1912


1912 - O PRIMEIRO FLA X FLU 















  














Em 1912, o Fluminense era um time esfacelado. No ano anterior conquistara o campeonato carioca invicto e com 100% de aproveitamento, mas o sucesso despertara vaidades e rivalidades que levaram a uma profunda cisão. Nove jogadores do time titular abandonaram o clube para fundar o departamento de futebol do Flamengo. Fiéis ao Fluminense permaneceram apenas dois titulares: Oswaldo Gomes e James Calvert.

 A rebelião dos jogadores tricolores durante o campeonato de 1911 aconteceu porque o craque do time, Alberto Borgerth, queria que os atletas fossem consultados sobre quem jogaria o penúltimo jogo da Liga. O ground committee (como era chamada a comissão técnica na época) não aceitou. Os jogadores, então, decidiram que deixariam o Fluminense após o torneio – inclusive Borgerth. Mas ganharam o título antes.

O recém-criado Flamengo se apresentava assim, como o grande favorito para a conquista do título de 1912. Ao Fluminense restava apenas tentar um milagre com um time formado por nove reservas e os dois fiéis titulares. Milagre que se mostrou cada vez mais longe após os dois primeiros jogos do campeonato, quando perdemos em casa para Rio Cricket e Paysandu, este jogo uma sonora goleada por 5 a 0. O Fluminense conseguiria sua primeira vitória na terceira rodada, um magro 1 a 0 sobre o São Cristóvão, no campo deles. No clássico contra o América, em Campos Sales, na quarta rodada, um empate sem gols mostrou alguma evolução do time, mas não o suficiente para alguém apontar o Fluminense como favorito no primeiro Fla-Flu da história, que aconteceria na quinta rodada, no dia 7 de julho.

Todos esperavam que o Flamengo massacrasse o Fluminense, afinal, o Flamengo vinha muito bem no campeonato, havia goleado o Mangueira por incríveis 16 a 2, o América por 6 a 3 e o Bangu por 7 a 4. Os reservas do Fluminense não poderiam fazer frente aos campeões de 1911, essa era a expectativa de todos, até mesmo da imprensa. O jornal “O Paiz”,  publicara que “à equipe do Flamengo , por todas as razões, se impunha a sua vitória”. Tal era o clima que cercava a partida naquela tarde clara de 7 de julho, quando os dois times se enfrentaram no campo da Rua Guanabara, nas Laranjeiras.

Às 15h55 do dia 7 de julho de 1912, uma pequena multidão de 800 pessoas viu o juiz Frank Robinson dar o apito inicial da primeira partida entre Flamengo e Fluminense, aquele que viria a se tornar o clássico mais famoso do Brasil. A torcida era quase toda do Flu. Homens de terno, gravata e chapéu de palha, com fitas das cores do clube. Mulheres com leques e vestidas “como se fossem para uma recepção no Itamaraty”, definiu o escritor e tricolor fanático Nelson Rodrigues.

A verdade é que depois que a bola rolou toda a empáfia flamenguista se desmanchou como um castelo de cartas. Não se sabe exatamente o que se passou na cabeça dos flamenguistas, se menosprezaram o adversário ou se estavam envergonhados por terem virado a casaca. Não importa. Sabe-se exatamente o que se passou na cabeça, na alma dos tricolores, que se transformaram em heróis, correram como nunca, suaram, multiplicaram-se em mil e conquistaram uma vitória épica, que nunca poderá ser vingada.

O Fluminense abriu o placar logo no primeiro minuto com Edward Calvert . O Flamengo empatava logo em seguida aos 4 minutos copm Arnaldo. O jogo prosseguia disputadíssimo, longe de ser a moleza que se esperava. No segundo tempo, aos 17 minutos, o Fluminense tem uma falta a seu favor e James Calvert, o artilheiro de 1911 e um dos dois jogadores que preferira permanecer no Fluminense, cobrou-a sem força, mas o goleiro flamenguista Baena aceitou e tomou um frango. O Fluminense estava novamente na frente do placar e os flamenguistas sentiam o peso que essa derrota poderia causar. Partiram desesperados para tentar o empate, e conseguiram, a dois minutos do final com Píndaro. Suspiraram aliviados e relaxaram. Não imaginavam o castigo que sofreriam no último minuto do jogo. Dada a saída, o Flu lançou-se ao ataque pela ponta esquerda, Calvert cruzou forte e rasteiro e Bartholomeu penetrou rápido pela zaga flamenguista para fuzilar o goleiro e fechar o placar em 3 a 2.

 Para Nelson Rodrigues, a vitória do Fluminense, com o time mais fraco, foi decisiva para o futuro do clássico. “Se o Flamengo tivesse ganho, a rivalidade morreria ali, de estalo”, escreveu.

Os tricolores celebraram como se fosse um campeonato. Os flamenguistas entreolhavam-se incrédulos. Aquela derrota lhes custaria o campeonato. Graças àqueles dois pontos perdidos, o Flamengo perderia o campeonato de 1912 para o Paysandu.

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