domingo, 22 de maio de 2016

CLÁSSICOS DO FUTEBOL BRASILEIRO - BAHIA x VITÓRIA ( BA-VI )

HISTÓRIAS DO FUTEBOL BRASILEIRO - BAHIA x VITÓRIA ( BA-VI ) 






Bahia, campeão da Taça Brasil de 1959 e do Campeonato Brasileiro de 1988, e vice em 1961 e 1963, e bicampeão da Copa do Nordeste (2001 e 2002) e o Vitóriavice-campeão brasileiro de 1993 e da Copa do Brasil de 2010, além de pentacampeão do Nordeste (1976199719992003 e 2010), construíram sua rivalidade um pouco mais tarde que a maioria dos grandes clássicos do futebol brasileiro.
Isto porque o Bahia, fundado em 1931, à altura do primeiro confronto ainda se popularizava no futebol soteropolitano e baiano. O Vitória, apesar de fundado em 1899 (um dos primeiros clubes do Brasil) e de ter sido um dos pioneiros em criar um departamento de futebol no país, em 1902, só passou a dar real importância ao futebol na década de 1950. Antes, a prioridade do rubro-negro eram os esportes aquáticos, com destaque para o remo. Daí a origem da alcunha "Leões da Barra", visto que muitos dos seus remadores praticavam o esporte na região da Barra.

A primeira partida entre os dois clubes, porém, foi realizada muito antes disto. Ainda em 10 de Abril de 1932, às 16h05, no antigo Campo da Graça, Bahia e Vitória se enfrentavam pela primeira vez, em partida apitada por Vivaldo Tavares. Mas, com um detalhe: o Ba-Vi inaugural teve apenas 20 minutos. Isto porque o jogo foi válido pelo Torneio Início do Estadual daquele ano. Tal competição era muito tradicional à época e servia como uma preliminar do Campeonato Baiano. Composta por todos os participantes do estadual, era disputada em jogos eliminatórios de 20 minutos, num mesmo dia e local.
À época do primeiro confronto, a dupla Ba-Vi vivia momentos distintos. O recém-nascido Bahia era só alegria. Fundado em 1931, ano anterior ao jogo, havia conquistado o Campeonato Baiano logo em sua primeira participação. O time era a grande sensação da cidade. Por outro lado, o futebol do já trintão Vitória atravessava uma fase de instabilidade, porque ainda não havia adotado o profissionalismo. Em 1932, o rubro-negro decidiu voltar à disputa do Baianão após um tempo de ausência, talvez motivado pelo sucesso do novato Bahia logo em seu primeiro ano

Com um time melhor, mais entrosado, base formada ao longo da campanha do título estadual de 1931, o Bahia foi para cima do futuro arquirrival Vitória, que entrou em campo com um time recém-formado. Logo no primeiro ataque, Gambarrota recebeu na direita, passou por De-Vecchi e chutou por cima do gol. O detalhe é que De-Vecchi era goleiro, mas estava improvisado no meio-de-campo rubro-negro, prova do quão pouco era priorizado o futebol no clube. Perto do fim do primeiro tempo, Raúl recebeu na entrada da área e chutou no cantinho do goleiro Walter, para fazer o primeiro gol da história dos Ba-Vis. O tricolor ia para os vestiários tranquilo. Além do 1 a 0, tinha dois escanteios de vantagem sobre o adversário. O número de "esquinados" era o segundo critério desempate. Gambarrota, de cabeça, e novamente Raúl completaram o placar no segundo tempo, 3 a 0 para o Bahia.

Bahia: Teixeira Gomes; Leônidas e Odilon; Mílton, Canoa e Gia; Bayma, Wanderley, Raúl, Rubinho e Gambarrota.
Vitória: Walter; Gilberto e Alencar; Raymundo, Zezito e Carneiro; De-Vecchi, Manelito, Romeu, Coutinho e Zelito Magalhães.

O primeiro clássico oficial e de 90 minutos foi realizado cerca de cinco meses depois, em 18 de Setembro de 1932. A exemplo do que aconteceu no jogo anterior, o Bahia venceu o primeiro Ba-Vi de 90 minutos por 3 a 0. Desta vez, com gols de Guarany, Bayma e Raúl. A partida teve arbitragem de Osvaldo de Souza e renda de um conto (milhão) e 206 mil-réis. A importância do jogo pode ser percebida pelo pouco espaço dado pelo Jornal A Tarde, o principal do estado na época e um dos principais ainda hoje, no periódico de 19 de Setembro de 1932:

O S.C. Bahia derrotou o S.C. Vitória no encontro de ontem, de 3x0 gols, estes marcados no primeiro tempo, quando o campeão bahiano actuou muito bem, com bello padrão de jogo. Os três pontos foram verdadeiramente techinicos, producto da inteligente combinação das linhas. De todos, o mais bello foi o gol de Raúl, calma, consciência, tendo a frente o beck e o keep, o lado direito de De-Vecchi bem defendido, colocou na esquerda. Só mesmo Araquém marcou um assim, aqui na Graça. O gol só valeu pela partida.

O primeiro triunfo do Vitória sobre o rival só aconteceria no dia 2 de julho de 1934, pelo placar de 4 a 3. A curiosidade negativa que marcou a primeira vitória do rubro-negro sobre o time que anos depois se tornaria seu grande arquirrival, foi o suicídio do jogador Bitonha, do Bahia. Após discordar da atitude do árbitro Vivaldo Tavares, que ordenara a repetição de um pênalti a favor do Vitória por uma irregularidade na primeira cobrança, Bitonha partiu pra cima do juiz e o agrediu. A briga foi tão feia que Vivaldo nem retornou ao gramado. Bitonha, além de receber o cartão vermelho, foi preso ali mesmo. No dia seguinte, ao ver sua foto estampada nos jornais como o principal personagem da confusão, Bitonha envergonhou-se e acabou se suicidando com cianureto

No começo, as goleadas em favor do Bahia eram frequentes, afinal, o Vitória só foi se profissionalizar em 1953. O Tricolor baiano já venceu de 10 por duas vezes. O Vitória, às vezes, conseguia surpreender e em 1948, por exemplo, aplicou um surpreendente 7 a 1.
A maior goleada do clássico aconteceu em 1939, quando o Bahia aplicou um imperioso 10 a 1. Ao contrário do ano anterior (1938), que em apenas dois jogos o Vitória havia sofrido 19 gols do rival (um 9 a 4 e outro 10 a 2), no novo ano as coisas aparentavam ter mudado. Em três jogos que haviam ocorrido tivemos equilíbrio, com uma vitória para cada e um empate. No fim daquele ano foi organizado um amistoso com o intuito de arrecadação, marcada para o dia de Nossa Senhora da Conceição da Praia.
Os primeiros Ba-Vis da história, porém, não foram cercados por toda a expectativa e rivalidade que cercam os clássicos disputados nos dias de hoje. Afinal, na década de 30Bahia e Vitória ainda não eram os clubes mais vencedores do estado, e sequer os mais tradicionais da capital, Salvador. Tampouco tinham torcidas representativas. Em 1932, ano do primeiro Ba-Vi, o Bahia completava seu primeiro aniversário. O Vitória, ainda com um futebol semi-amador, vivia a fase de transição para o profissionalismo e o esporte principal disputado no clube era o remo.

A partir da década de 50, com a popularização dos dois clubes que anos mais tarde se tornariam os maiores da Bahia, o Ba-Vi passou a ganhar seus contornos de rivalidade e emoção, fato que tornou cada confronto entre os clubes um imenso atrativo para os baianos, em jogos que sempre atraem milhares de torcedores e geram repercussão nacional.

Antes do surgimento do Ba-Vi, o Bahia rivalizava com o Galícia, o Ypiranga e o Botafogo de Salvador, confrontos denominados "Clássico das Cores" (contra o Galícia), "Clássico do Povo" (contra o Ypiranga) e "Clássico do Pote" (contra o Botafogo). Os embates do Vitória contra Galícia, Ypiranga e Botafogo só ganhariam contornos de rivalidade mais tarde.
Ainda nos primórdios do futebol baiano e antes mesmo do Bahia ser fundado, o Vitória mantinha também um clássico com o antigo Clube de Natação e Regatas São Salvador, chamado "Ajuste de Contas". O São Salvador era muito popular naquela época, e foi uma das primeiras forças do futebol baiano, bicampeão do Campeonato Baiano nas edições de 1906 e 1907. Atualmente, o clube dedica-se apenas à prática de esportes aquáticos.

Com a conquista do Campeonato Brasileiro de 1988 pelo Bahia, pensou-se na teoria que o tricolor assumiria de vez o comando do futebol no estado, sem adversários à sua altura - o tricolor já havia sido tetracampeão baiano de 1981 a 1984 e tricampeão de 1986 a 1988. Entretanto, foi exatamente a partir daí que o Vitória reagiu e diminuiu a hegemonia do futebol baiano, conquistando a maioria dos campeonatos estaduais (em 25 anos, foram 16 títulos estaduais para o rubro-negro), e vencendo a grande maioria dos Ba-Vis desde então.
Dentre os resultados e conquistas recentes, o Vitória tem tido superioridade sobre seu maior rival, o que em décadas anteriores ocorria ao contrário, quando a superioridade era tricolor. Somente na década de 2000 (entre 2000 e 2009), foram oito títulos baianos conquistados pelo rubro-negro (2000200220032004200520072008 e 2009), contra um do tricolor, na edição de 2001.
Em âmbito regional, também há um amplo domínio recente do rubro-negro, com as quatro conquistas da Copa do Nordeste, em 199719992003 e 2010, fato que consolidou o Vitória como o maior campeão do Nordeste (houve também uma edição conquistada em 1976). Pelo lado tricolor, destaca-se o bicampeonato nordestino nas edições de 2001 e 2002, as duas únicas edições do torneio conquistadas pelo clube do Fazendão.
Levando-se em conta os números totais desde o primeiro clássico, realizado em 1932, o Bahia possui vantagem tanto em número de vitórias quanto em gols marcados, enquanto é do Vitória o maior número de goleadas recentes. Destacam-se o 6 a 2 aplicado no Baiano de 2005, o 5 a 1 aplicado durante a Copa do Nordeste de 2010, um novo 5 a 1 no Baiano de 2013 (jogo que marcou a inauguração da Arena Fonte Nova), além do 7 a 3 na primeira partida final desta mesma edição do Campeonato Baiano. Pelo lado tricolor, está a maior goleada do clássico (10 a 1, num jogo realizado em 1939).
É de se destacar que este salto recente do Vitória, em especial nas três últimas décadas se deve muito à construção do Estádio Manoel Barradas, o Barradão, inaugurado em Novembro de 1986. O Barradão foi um fator que alavancou o clube não só nacionalmente, haja visto o vice-campeonato brasileiro apenas sete anos após sua inauguração, mas também em sua disputa particular com o Bahia. Foi também após a construção do seu estádio que o Vitória praticamente dobrou a quantidade de títulos estaduais e conquistou mais quatro títulos nordestinos, tornando-se o maior campeão da Copa do Nordeste.







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