Arthur Friedenreich, filho de um comerciante alemão e de uma lavadeira negra, nasceu em 18 de julho de 1892, na esquina das ruas Vitória e Triunfo, próximas ao centro da cidade de São Paulo.
Ainda menino, roubava meias da mãe para confeccionar suas bolas, o que causava grandes transtornos para sua mãe, que precisava tomar o bonde e ir ao centro da cidade para repor o guarda-roupas.
E no seu gramado imaginário mantinha o sonho de ser um astro das elegantes praças esportivas da época, que por sua vez, não toleravam negros naquele começo do século XX.
Por interferência de um tio, também alemão, inscreveu-se no Germânia em 1909. Astuto e manhoso, usava as mesmas meias, que antes serviam como bola, para improvisar uma touca que escondia o seu cabelo mulato.
Completando essa inusitada metamorfose, aplicava borrifos de rouge no rosto.
Assim, Fried sentia-se melhor naquela atmosfera ainda racista e composta de intelectuais almofadinhas, que tentavam em vão brecar suas arrancadas habilidosas.
Naquela época, já era um craque cobiçado para jogar aqui e ali. Todos falavam de Arthur Friedenreich, e muitos, já não reparavam em sua aparência mulata que contrastava com seus olhos em tons esverdeados.
Falava alemão fluentemente e no curso de sua juventude aprendeu o inglês e o francês. Estudou engenharia e para tanto, defendeu o Mackenzie College em 1912.
Depois de um curto período no Americano de São Paulo, no C.A Ypiranga e também no Paysandu, Fried foi jogar pelo C.A Paulistano em 1918.
Lá, dedicou onze anos de sua carreira, ainda amadora, que lhe dava o direito de possuir uma carteirinha de sócio ofertada pelo clube.
Brilhou também na Seleção Brasileira em 1914. Poucos anos depois, conquistou o Sul-Americano de 1919, onde foi considerado o melhor jogador brasileiro e um dos destaques da competição.
Em 1925, fez parte da equipe do Paulistano que brilhou numa excursão ao continente europeu, com 9 vitórias em 10 partidas disputadas. Os jogadores do Paulistano foram apelidados de “Les Rois du Football” (Os Reis do Futebol) pela imprensa européia.
Em 1929, no seu último ano de Paulistano, Fried anotou 7 tentos em uma única partida, contra o União da Lapa, batendo o recorde da época.
Foram vários títulos paulistas conquistados no C.A Paulistano: 1918, 1919, 1921, 1926 (LAF – Liga de Amadores de Futebol), 1927 (LAF – Liga de Amadores de Futebol) e 1929 (LAF – Liga de Amadores de Futebol).
Em 1930, com o fim do departamento de futebol no Paulistano, Fried foi para o São Paulo da Floresta, oferecendo sua importante participação na conquista do título de 1931, mesmo contando com 39 anos de idade.
Atingiu marcas impressionantes, como no certame paulista de 1932, quando marcou 32 tentos em 26 partidas disputadas.
O mais famoso jogador de futebol de sua época deixou o futebol de lado quando precisou apoiar seus companheiros na revolução constitucionalista de 1932.
Liderou um batalhão com quase 3.000 outros atletas e foi promovido ao posto de segundo tenente.
Em 81 partidas disputadas pelo tricolor, Fried marcou 63 gols e ostenta uma média de 0,814 gol por jogo, o que o consagra como o maior artilheiro são-paulino (por média) de todos os tempos.
Sua última partida pelo São Paulo da Floresta aconteceu no dia 02 de setembro de 1934, na vitória sobre o Palestra Itália por 1×0. O gol foi marcado pelo próprio Friedenreich, aos 18 minutos do segundo tempo.
Encerrou sua carreira no Flamengo, em 1935, aos 43 anos de idade. Fried jogou ainda pelo Atlético Mineiro, Atlético Santista, Santos, selecionado paulista e também em outros combinados de clubes. Foi, sem dúvida, o primeiro ídolo do futebol brasileiro.
Algumas fontes apontam que Friedenreich anotou, ao longo de 26 anos de carreira, uma respeitável marca de 1.239 gols. Outras, todavia, apontam 1281 gols em 1329 partidas.
Esse trocadilho, aparentemente inocente, pode ter provocado o número também conhecido e divulgado de 1329 gols, que não oferece sustentação documental para sua devida comprovação.
Mesmo assim, podemos então concluir que Fried chegou aos 1.000 gols antes que Pelé.
Em levantamento realizado pela revista Placar (junho/2000), Friedenreich teria marcado 556 gols em 561 jogos, com média de 0,99 gols por partida, uma média superior aos dados de Pelé, com 0,93 gols por jogo.
Seja qual for o número verdadeiro de gols marcados, o fato é que Friedenreich foi infinitamente melhor do que qualquer outro jogador de sua romântica geração. Após deixar o futebol, Fried foi beneficiado pelos laços estreitos na comunidade germânica.
A Companhia Antarctica Paulista, dirigida por alemães, o contratou como propagandista no dia 1º de setembro de 1938, com um salário mensal de 600 mil réis, após indicação feita pelo jornalista Cásper Líbero, um fã declarado do ex-craque.
Friedenreich faleceu no dia 6 de setembro de 1969.
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