quarta-feira, 23 de maio de 2018

BANGU ATLÉTICO CLUBE - RIO DE JANEIRO [ RJ ]


A construção da Fábrica foi iniciada em maio de 1889. Em 1890 é inaugurada a estação da Estrada de Ferro, em Bangu. Em 1891, no dia 12 de fevereiro, a Fábrica apitou pela primeira vez, pois algumas de suas seções começaram a funcionar. Nessa época teve início, no Marco 6, a instalação de algumas casas comerciais e que foram aumentando, ficando o Marco 6 como o núcleo inicial do bairro. O Marco 6, assim chamado, é devido a um marco de pedra que se colocava, de légua em légua, na Estrada Real de Santa Cruz.
                O Nosso Marco está localizado nas imediações da Estação de Guilherme da Silveira. Com o funcionamento da Fábrica e a Estrada de Ferro transportando o que a população necessitava, já se iniciava um movimento social para que os seus moradores tivessem, além do trabalho, cultura e diversão.
               Em 24 de Janeiro de 1892 foi fundada a Sociedade Musical Progresso de Bangu, de cuja obra meritória é seu continuador o Casino Bangu, com um S só, espanhol, já que foi uma homenagem ao seu idealizador – o extraordinário João Ferrer nascido na legendária Ibéria. (Paschoal J. Granado)
               O ano de 1892 foi marcante para o Bangu nascente. A Fábrica começou, de fato, a funcionar. Os seus operários – a grande maioria vinda de fora – já faziam reuniões sociais. Em 1893 foi construído pela Fábrica, lá pelas bandas do Retiro, um Engenho que fabricava álcool, cachaça, melado, etc., cuja produção era substancial, tanto que fornecia para o comércio, no Marco 6.
               O ano de 1895 apresentou alguns fatos que merecem citação, senão vejamos: foi iniciada a construção de uma Vila Operária para que os empregados ficassem mais perto do serviço. Foi, também, construída pela Cia. uma bela casa localizada no fim da Estrada do Engenho, para a residência do Administrador da Fábrica. Esta casa que chamavam de “Chalet”, foi também o lugar onde se recebiam as personalidades que visitavam a Fábrica. Ainda em 1895 foi fundada a Banda de Música dos Operários, sob a direção do Sr. José Pedro de Andrade, mestre de pedreiro e figura das principais na sociedade.
               Oficialmente, o Bangu Atlético Clube foi fundado em 17 de abril de 1904, porém, atividades esportivas em geral e futebol em particular já eram práticas conhecidas no bairro desde o século XIX. O football era um esporte que já existia há muito tempo na Inglaterra e cujas regras oficiais foram traçadas em 1863. Era tradição nas escolas a prática desses jogos entre os jovens e inúmeros clubes já haviam sido criados no Reino Unido.


   

A  FUNDAÇÃO
               A história do Bangu Atlético Clube começa realmente em fins do século XIX. Dentro da Fábrica Bangu, técnicos ingleses, recém chegados, falaram do futebol. Os filhos da terra ficaram empolgados com a narrativa dos bretões, sobre a nova modalidade desportiva.
               Das conversações, nasceu a ideia de fazer-se um “field”. “Field” era como os ingleses denominavam o campo de futebol. Mas… e as bolas? Já havia uma trazida pelo técnico Thomas Donohoe, ou melhor, seu ‘Danau” (essa bola ao que tudo indica, foi a primeira bola de futebol da Cidade Maravilhosa).
               Era da Inglaterra que vinha o equipamento industrial da Fábrica, dentro de enormes caixas de madeira. Alguém foi a Londres a serviço da Fábrica. Eis que um dia ao ser aberta, na Fábrica, uma dessas Caixas, encontrou-se bem camuflado, um pacote contendo uma bola de couro para a prática do futebol, novinha, com bomba e tudo para enchê-la e alguns pares de chuteiras.
               Ao iniciar-se pois, o século XX, já se praticava o futebol em Bangu, em uma área cedida pela Companhia Progresso Industrial do Brasil e que seria, como foi, um campo provisório, localizado bem ao lado direito das salas de trabalho então existentes.
              Em dezembro de 1903, retornando de um passeio que fizera a sua terra natal, a Inglaterra, o Sr. Thomas Donohoe trouxe mais duas bolas de futebol. Sentindo o entusiasmo que despertava em todos o novo jogo, o Sr. Andrew Procter sugeriu a fundação de um “club”. Após uma reunião preparatória, na qual tomaram parte os Srs. Andrew Procter, John Starck, José Villas Boas, Thomas Donohoe, Clarence Hibbs, Willian French, Willian Procter, Martinho Dumiense, José Medeiros, José Soares, Frederich Jacques e Thomas Hellowell, quando se decidiu, definitivamente, fundar-se o “club”, dias após, precisamente a 17 de abril de 1904, na casa nº 12 da Rua Estevão (depois Rua Ferrer e hoje Av. Cônego Vasconcelos) foi, oficialmente, fundado o Bangu Atlético Clube.              
               Deixaram de constar na Ata de fundação os nomes dos Srs. Thomas Donohoe, José Villas Boas e James Hartley. Acreditamos, todavia, que os referidos senhores terão deixado de assiná-la por algum lapso ou porque motivo relevante os tenha impedido de comparecer a essa histórica reunião. Cremos que por justiça, deverão eles serem considerados como fundadores do Bangu Atlético Clube. Seus nomes figuram, aliás, como Vice-Presidente e Membros do Conselho Fiscal da Diretoria então eleita.
Texto da Ata de Fundação
               Aos 17 de abril de 1904, na casa nº 12 da Rua Estevão, com a presença dos seguintes Senhores: John Starck, Fred Jacques, Clarence Hibbs, Thomas Hellowell, José Soares, William Procter, William Hellowell, William French, Segundo Maffeu e Andrew Procter, fundou-se um Club Athletic sob a denominação de “BANGU ATHLETIC CLUB”. Foi convidado de presidir o meeting Sr. John Starck, servindo de Secretário o Sr. Andrew Procter. O Presidente expôs os fins do Club que serão os jogos de “Foot-ball”, “Cricket”, “Lawn Tennis” e outros jogos variados.
             Foi proposta pelo Sr. Jacques que a entrada de sócios seja de 2$000 e que a mensalidade é de 1$000 pagável no dia 1º de cada mês que foi adaptado unanimemente. Foi decidido que as cores serão branca e encarnado e o Sr. Stack foi convidado de falar com o Diretor da Fábrica, afim de arranjar o pano necessário para fazer o fardamento do Club.
            Ficou resolvido que será jogado um match entre os teams do Capitain e Secretario, no domingo dia 24 deste mês. Jogo para principiar às 4 horas da tarde. O Secretário foi autorizado de anunciar a formação do Club nos jornais e também anunciar na Fábrica, convidando os rapazes de entrar como sócios. Quem quiser dará o seu nome ao Secretário. Foi convocado para domingo 24 uma nova reunião da Diretoria afim de tratar dos assumptos do Club.
           Não havendo mais nada de tratar foi dissolvida a assembleia na maior harmonia. 17 de Abril de 1904
          O primeiro presidente do Bangu foi William French, um inglês clássico que fumava cachimbo e falava pouco, quase e que nunca se familiarizou com a língua da nova pátria, ao contrário do seu conterrâneo Guilherme Procter que se esqueceu, por completo, da língua materna: falando apenas a portuguesa. Naquele longínquo 1904, em que a vida era muito mais difícil do que hoje, qualquer cidadão de ânimo fraco baquearia na direção de empreendimentos, por menores que fossem, que exigissem persistência e convicção para levá-los à frente e engrandecê-los. Só mesmo um inglês da têmpera do velho French seria capaz de enfrentar as borrascas que desabariam sobre o nosso Bangu quando despontava para a vida longa e gloriosa.
          

José Villas Boas (presidente), Frederick Jacques e João Ferrer (presidente honorário); fila do meio: César Bochialini, Francisco de Barros, John Stark, Dante Delocco e Justino Fortes; fila da frente: Segundo Maffeu, Thomas Hellowel, Francisco Carregal (o primeiro negro a integrar uma equipe de futebol), William Procter e James Hartley -  BANGU ATLÉTICO CLUBE 1905 



Os ingleses que foram os seus fundadores, dirigiram o clube até 1914, com capacidade e honestidade nunca postas em dúvida. Foi fase pioneira e dos maiores sacrifícios. Tirava-se água de pedra… Mas…  O primeiro brasileiro que quebraria a dinastia dos ingleses, e isso em 1915, foi Noel de Carvalho, vindo do Estado do Rio, ou melhor, de Rezende. Era escritor, poeta e orador de indiscutíveis méritos aliando tudo isso as virtude e qualidades de um homem dos esportes, sobretudo.
          O seu período administrativo distinguiu-se pela força moral e elevadas atitudes postas a serviço do Bangu e do desporto, tendo como prioridade a defesa do jogador preto, que os clubes tentavam de todos os meios e modos afastar das lutas gramado a dentro, porque de seus quadros sociais, já os pretos tinham sido banidos há muito tempo ou neles nunca tiveram ingresso.
               A defesa constante que fez do homem preto, jogador de futebol reavivou nele o abolicionista íntegro, espontâneo e intransigente defensor da raça negra, na qual via gente tão boa e tão útil quanto a gente da raça branca, faltando-lhe somente a instrução adequada, que lhe negavam, para tornar-se um válido social. Entretanto…  
               O mais moço dos Presidentes do Bangu foi o Ministro Ary de Azevedo Franco. Era de Paracambi, no Estado do Rio. Aos vinte e um anos foi guindado ao posto máximo, na direção do Clube. A dizer bem, era tão jovem que, às vezes, sentia vergonha de comandar as Assembleias Gerais, delegando poderes a outros mais antigos para as dirigir. E essa era a sua principal característica: uma encantadora modéstia.
               O primeiro carioca, e presidente de mandato mais longo, foi o Dr. Guilherme da Silveira Filho, nosso Patrono. Até hoje é o homem decisivo na vida do Clube. A sua jornada, na Presidência, não sofreu solução de continuidade, praticamente. Era o ano de 1937 e lá estava ele enfrentando galhardamente as dificuldades que o Clube atravessava, sem queixas e sem azedumes. O primeiro banguense, isto é, o primeiro homem nascido em Bangu, a ocupar a presidência do Clube foi o Dr. José Vital, que deixou o posto por término de mandato.
               O Bangu, que foi fundado à 17 de Abril de 1904, só viria a ter um presidente filho de suas terras em 9 de novembro de 1971, ou seja, 67 anos depois. Foi o homem providencial. Quando o Bangu, mergulhado numa das suas maiores crises, maior mesmo que as de 1907 e 1917, procurou-o para gerir os seus destinos, José Vital nem pestanejou. Estava em jogo o Clube do seu coração. Viver ou morrer era o dilema de fogo a ser enfrentado. E José Vital fez a opção:
– Viver, sim… Enquanto houver um banguense da minha estirpe o Bangu não morrerá…
ESTÁDIO
               O Estádio Proletário Guilherme da Silveira Filho ou Estádio de Moça Bonita é um estádio de futebol localizado no bairro de BanguRio de Janeiro – RJ. Foi inaugurado no dia 17 de novembro de 1947, para substituir o antigo Estádio da Rua Ferrer, do Bangu Atlético ClubeA primeira partida no Estádio de Moça Bonita só ocorreu em 12 de dezembro de 1948, na partida vencida pelo Flamengo sobre o Bangu por 4 a 2. O primeiro gol no estádio foi de Joel Resende, do Bangu.
               O Estádio de Moça Bonita teve capacidade de 15.000 pessoas, mas atualmente o número de ingressos é reduzido pelas condições de segurança do público. O recorde de público (não confirmado) é de 32.000 espectadores, na partida entre Bangu e a Seleção Brasileira, no dia 14 de março de 1970, que terminou empatada em 1 a 1. O estádio vem passando por reformas com instalação de cadeiras oriundas do Maracanã e reformas nos vestiários, banheiros, cabines de imprensa, sistema de iluminação e gramado.
               


A “cancha encantada da Rua Ferrer”, como dizia o locutor Ary Barroso foi feita em linha paralela ao terreno da Fábrica Bangu pelo Diretor-Gerente da Companhia e Presidente Honorário do Bangu, João Ferrer, em tempo recorde para que o Bangu pudesse participar do 1º Campeonato Carioca de futebol, pois antes o clube jogava em uma área dentro da Fábrica.
               A estreia ocorreu no dia 13 de maio de 1906, com o jogo amistoso Bangu 2 x 0 Riachuelo. Uma semana depois, o Bangu estaria jogando oficialmente contra o Football and Athletic pelo Campeonato Carioca. As arquibancadas da Rua Ferrer sofreram um incêndio em 1936, antes de uma partida entre Bangu e Madureira, que não chegou a acontecer. E foi reconstruída para o ano seguinte, sendo reinaugurada em 23 de maio de 1937. Na rua Ferrer, atrás do campo, ficava a sede social do Bangu, o famoso Pavilhão.
              O campo durou até 1943, a partir de 1944 foram proibidas partidas lá. A Fábrica iria vender a área onde ficava o campo (bem no centro de Bangu e portanto, com alto valor comercial). Construiu-se um novo campo (o de Moça Bonita, inaugurado em 1947). Mas, o maravilhoso gramado da Rua Ferrer (com grama inglesa), as luxuosas arquibancadas de madeira e todas as confusões que os apaixonados torcedores faziam ali, isto ficou. Principalmente nas lembranças de quem lá esteve.
               As expectativas otimista do Dr. Silveirinha no início das obras no campo de Moça Bonita, em 1945, não se realizaram. Prometia ele, que já em 1946, o time poderia jogar no novo estádio. Porém, como acontece nas grandes obras, o prazo passou e a inauguração acabou ficando para 1947. Mais uma vez, e isso desde 1944, o Bangu tinha que atuar longe de sua torcida. Grande parte da força do Bangu vem do seu mando de campo. Jogar no campo da Rua Ferrer era um martírio para os adversários, próximo àquelas arquibancadas luxuosas, bem trabalhadas em ferro e madeira, o alvirrubro era mais forte que qualquer adversário.
               Na saudosa Rua Ferrer de tantas partidas legendárias e de confusões memoráveis, o Bangu fez sua história nos primeiros 40 anos de sua vida. Agora, teríamos uma nova casa, moderna, segura, ampla e que atendia todas as exigências dos grandes jogos de futebol que vínhamos tendo. E precisávamos fazer do novo estádio de Moça Bonita, o que a Rua Ferrer representou, um motivo de orgulho para nossos jogadores e um local onde a torcida fizesse valer o seu amor ao clube.
               Atuando fora de casa em todos os jogos, o clube fez campanha razoável nos dois campeonatos que eram disputados nesta época: o Torneio Municipal e o Campeonato Carioca. Em Bangu todos sabiam que um desejo do Dr. Silveirinha era que após a construção do campo, fosse montada uma grande equipe para pisar naquele gramado. Então faltava pouco para termos outros esquadrão, como aquele que encantou a cidade na década de 30. Durante o ano de 1946, as obras para a conclusão do novo estádio do Bangu continuaram a todo vapor. Os sem-estádio. Jogadores do Bangu na temporada de 1946 sofreram por não poderem jogar próximo à torcida.





O Campeonato Carioca de Futebol de 1933
               Foi disputado em duas ligas. O organizado pela AMEA (Associação Metropolitana de Esportes Athleticos) foi vencido pelo Botafogo. O da LCF (Liga Carioca de Futebol) pelo Bangu. O Flamengo foi o último colocado da LCF, porém, por falta de clubes profissionais na época não havia 2ª divisão, logo não houve nenhum rebaixado em 1933. O artilheiro da competição foi Tião, do Bangu com 13 gols. Em segundo e terceiro também foram jogadores do Bangu, ou seja, Ladislau com 9 e Plácido com 7.
             

    Campeão Carioca de 1933 - Mário Carreiro, Ferro, Santana, Orlandinho, Plácido, Camarão, Médio da Guia e Tião. Sobral, Ladislau, Euro, Sá Pinto, Euclides e Paulista. 


Em 1933, o futebol brasileiro passava por um processo de profissionalização bastante conturbado. Havia uma verdadeira cisão entre os clubes que queriam o profissionalismo e os que desejavam manter o amadorismo no esporte. No estado do Rio, em especial, América, Bangu e Fluminense articulavam para adotar oficialmente (já que na prática alguns clubes assim o faziam) o profissionalismo, enquanto o Botafogo era terminantemente contra, contando com apoio do Flamengo e do São Cristóvão. Para adotar o profissionalismo, Fluminense, América, Bonsucesso, Bangu, e Vasco fundaram uma nova liga, denominada Liga Carioca de Futebol. Durante o campeonato da A.M.E.A. (entidade que reunia os clubes amadores e que era considerada a liga oficial, já que era vinculada a CBD e à CBF), Flamengo e São Cristóvão resolveram abandonar a disputa.
            O Flamengo entrou então no campeonato dos clubes profissionais, que até então só contava com 5 clubes. Neste campeonato de profissionais que, para deixar claro, só tinha 6 clubes (América, Bangu, Bonsucesso, Flamengo, Fluminense e Vasco) o Flamengo ficou em 6º lugar. Neste ano não havia segunda divisão, pois não existia mais nenhum clube profissional no estado do Rio de Janeiro. Logo o Flamengo nunca poderia ser rebaixado. Não houve nenhum tipo de virada de mesa para beneficiar o Flamengo, não havia segunda divisão.
            Na Liga Carioca, o Bangu, disputando com Fluminense, Vasco, Bonsucesso, América e Flamengo. A peleja decisiva entre Bangu e Fluminense foi realizada no dia 12 de novembro de 1933, no Estádio das Laranjeiras, tendo como árbitro Alderico Solon Ribeiro. O Bangu jogou desfalcado do zagueiro esquerdo Sá Pinto e do ponta direita Sobral; e o Fluminense sem o goleiro Veloso, todos contundidos.
           Primeiro tempo, Bangu 2 a 0, gols de Ivan (contra) e Tião. No segundo tempo, Plácido e Tião selaram a vitória do Bangu. Final de jogo, Bangu 4×0 Fluminense. Neste dia o  Bangu jogou com: Euclides; Mario e Camarão; Ferro, Santana e Médio; Paulista, Laudislau, Tião, Plácido e Orlandinho. O técnico foi Luiz Vinhaes. O Fluminense com: Armandinho; Ernesto e Cabrera (Nariz); Marcial, Brant e Ivan; Álvaro, Vicentino, Russo (Cabrera), Tintas e Valter. O técnico foi Arthur Azevedo.
Obs.: Com este resultado o Bangu sagrou-se o primeiro campeão carioca da Era Profissional e por antecipação.
           E para fechar o campeonato com chave de ouro, na última rodada já com a faixa de campeão no peito, o Bangu goleou o América por 7 a 3. Este jogo aconteceu dia 15 de novembro de 1933 e foi disputado no Estádio Campos Sales. Os gols do Bangu foram anotados por; Tião (4), Ladislau (2) e Plácido.
Campeonato Carioca de 1966
           O Bangu, como ocorrera nos dois anos anteriores, estava perto do título. Em 1964 e 1965 deixara escapar a taça no final, ficando em ambas as vezes com o vice-campeonato. A base da equipe comandada pelo técnico argentino Alfredo Gonzalez era a mesma montada pelo antigo e lendário treinador Tim. A arma principal do time era o ataque utilizando os lados do campo. O ponta-direita e um dos maiores jogadores da história do time era Paulo Borges. Muito veloz, ele tirava o sono dos laterais que teriam que o marcar. Era tão rápido que recebeu o apelido de “Gazela”, e tão goleador que se sagrou o artilheiro do campeonato (seria também o artilheiro do carioca de 1967). Pelo lado esquerdo do time, Aladim, que mais tarde faria história no Coritiba conquistando 6 títulos estaduais, era quem infernizava as defesas.
           

     Campeão Carioca de 1966 - MárioTito, Ubirajara, Luiz Alberto, Ari Clemente, Fidélis e Jayme
Paulo Borges, Cabralzinho, Ladeira, Ocimar e Aladim

O Bangu neste campeonato de 66 teve além do já citado artilheiro Paulo Borges, o melhor ataque (50 gols marcados) e a melhor defesa (8 gols sofridos). Se no ataque os pontas eram o ponto forte, na defesa quem mandava era Fidélis. O jogador tinha um porte físico tão privilegiado que foi apelidado de “Touro Sentado”. Sua grande importância para o time refletiu em sua convocação para a Copa 66.
          Em 1966, o Bangu conquistou seu segundo título, o primeiro havia sido há 33 anos atrás, ou seja, em 1933 em cima do Fluminense. Em 66 o Bangu tinha uma equipe muito bem montada, fazendo bela campanha, com quinze vitórias, dois empates e apenas uma derrota, para o Flamengo, no primeiro turno. Mas a revanche veio na final do Campeonato, e teve o sabor especial. Contra o Flamengo, no Maracanã, o Bangu provou que, naquele ano, tinha a melhor equipe da cidade. A vitória por 3 a 0 – gols de Ocimar, Aladim e Paulo Borges, foi pequena diante da superioridade banguense na decisão e poderia ter sido maior, se Almir não tivesse iniciado a confusão que provocou nove expulsões, cinco para o Flamengo e quatro para o Bangu, obrigando o árbitro Aírton Vieira de Moraes a encerrar a partida aos 25 minutos do segundo tempo, dando o título ao Bangu após 33 anos.
           Na tarde de 18 de dezembro de 1966, o maracanã recebia cento e quarenta mil torcedores para assistirem a decisão do Campeonato Carioca daquele ano. Mais de cem mil eram torcedores do Flamengo. Estádio lotado para saber se o Flamengo de Almir seria bicampeão ou se finalmente o Bangu de Paulo Borges levaria o troféu.
           Quando o jogo acabou, os flamenguistas tiveram que assistir em silêncio o barulho que a pequena torcida do Bangu fazia para comemorar um titulo que perseguia a trinta e três anos. A torcida do Flamengo estava de bandeiras arriadas, enroladas, sem ânimo sequer para perceber que a noite caia e já era hora de ir embora. A festa pertencia ao Bangu. Não importa que não tenha sido uma festa como a torcida queria, sem manchas, limpa, bonita, resultado normal de noventa minutos de excelente futebol.
           Futebol que poucos times sabiam praticar como o Bangu daquele ano. Entretanto, a história foi bem diferente. A partida não terminou. Os jogadores brigaram. A torcida brigou. Cenas de violência e ódio que acabaram por inscrever na história do futebol, não apenas o jogo decisivo, mas a imagem definitiva de um homem que fez dos gramados sua praça de guerra, num misto de herói e vilão: Almir, cujo destino fez com que ele morresse, moço ainda, na porta de um bar, sete anos depois. Almir foi assassinado a tiros em Copacabana.
           O Bangu que chegou a última batalha depois de dezoito jogos, vencendo quinze, empatando dois e perdendo apenas um, jogou neste dia com a seguinte formação; Ubirajara, Fidelis, Mário Tito, Luis Alberto e Ari Clemente; Jaime e Ocimar; Paulo Borges, Ladeira, Cabralzinho e Aladim. Este foi o grande time do Campeonato Carioca de 1966 e muito bem dirigido pelo treinador Alfredo Gonzalez. O Flamengo na decisão era um time cheio de problemas técnicos e psicológicos. Valdomiro, Murilo, Jaime, Itamar e Paulo Henrique; Carlinhos e Nelsinho; Carlos Alberto, Almir, Silva e Osvaldo.
          Aos três minutos do segundo tempo, a maioria dos torcedores rubros negros estavam calados. O placar de 3×0 para o Bangu era um sinal evidente da derrota, pois, além da diferença nos números, o adversário dominava o jogo. Os caminhos da reação pareciam fechados. Vinte e seis minutos e tudo estava na mesma. De repente, o futebol acaba, cedendo lugar a uma das maiores confusões já registradas no Maracanã. O lateral Paulo Henrique do Flamengo se preparava para cobrar um lateral quando Ladeira tentou impedir e o provocou. Paulo Henrique respondeu com palavrões e recebeu uma bofetada do atacante do Bangu. Almir estava ligado na partida e disposto a tudo para não aumentar a humilhação. Era demais para uma tarde só. Primeiro, os frangos de Valdomiro, que mais tarde foi acusado pelo próprio Almir de ter se vendido. Depois, as contusões de Carlos Alberto e Nelsinho. Agora, o tapa de Ladeira. Almir perde inteiramente o controle.
        Partiu, desesperadamente, na direção do Ladeira, que preferiu correr, mas em direção a zaga do Flamengo. Itamar, um negro forte de 1,85 e chuteira 43, pula com os dois pés no peito do atacante, que cai. Almir que vinha correndo chutou sua cabeça. A esta altura, o gramado do maracanã já era palco de uma verdadeira loucura coletiva. Ari Clemente do Bangu, vem por trás de Almir e agride o pernambuquinho. Imediatamente é cercado por Silva, Itamar e o próprio Almir. A torcida do Flamengo, até então calada com a derrota, resolve agitar suas bandeiras, como se cada soco, cada pontapé, valessem como um gol que o time não conseguiu fazer. E num desabafo começa a gritar – Almir, Almir, Almir.
         Ladeira deixa o campo de maca. O juiz Airton Vieira de Moraes, conversa com o treinador Reganeschi, que consegue tirar Almir do campo. Mas, quando Almir vai descendo o túnel ouve alguém gritar “Volta Almir. Acabe de vez com a festa deles”. Foi o suficiente. Ele dá meia volta e parte novamente para o gramado.
          É ameaçado pelo goleiro Ubirajara e lhe dá um soco. É cercado por Ari Clemente, Mario Tito, Luis Alberto e Fideles. Almir começa a distribuir socos prá todo lado. Bate e apanha. Silva e Itamar correm em seu socorro. Com muito custo, os policiais conseguem dominar Almir e levá-lo definitivamente para fora do campo. Sua saída lembra um lutador de box deixando o ringue após um combate. Os espectadores se dividem em vaias e aplausos.
         No meio do campo, o juiz Airton Vieira de Moraes resolve expulsar cinco jogadores do Flamengo: Valdomiro, Itamar, Paulo Henrique, Almir e Silva. E mais quatro do Bangu: Ubirajara, Luis Alberto, Ari Clemente e Ladeira. Futebol não teve mais. Os banguenses deram a volta olímpica com poucos aplausos. A torcida do Flamengo vaiava e gritava o nome de Almir. E assim, de forma lamentável terminou o Campeonato Carioca de 1966. O Bangu construiu sua vitória a partir dos 24 minutos do primeiro tempo. Ocimar cobrou uma falta de fora da área e marcou 1×0. Três minutos depois o Bangu aumenta para 2×0 através de Aladim.
         No intervalo, Almir avisou a todos que estavam nos vestiários do Flamengo. “Eles não vão ter volta olímpica”. Foi com esta disposição que o Flamengo voltou para o segundo tempo. E logo aos três minutos Paulo Borges marcou o terceiro gol. Ele deu um chapéu no zagueiro Ditão para um lado, para o outro e, com a bola ainda no ar, deu um chute violentíssimo, indefensável para o goleiro Valdomiro. A partir deste gol, o Bangu partiria para uma goleada histórica. O time estava bem, contrastando com um Flamengo que mais lembrava um moribundo. O Bangu foi o merecido campeão carioca de 1966, principalmente pela regularidade de sua campanha.
        Anos depois daquela grande decisão, Almir deu a seguinte declaração: “Para jogar aquela partida, eu tomei dois Dexamil. Outros jogadores tomaram também, porque nessas horas a bolinha aparece não se sabe como. Há sempre alguém oferecendo: quem quiser tomar, toma mesmo. Aquela decisão para mim era normal, não era a bolinha que iria me prejudicar. Havia outros problemas. Um deles era o juiz Airton Vieira de Moraes, o Sansão, que eu acho que também foi comprado pelo presidente do Bangu, o Sr. Castor de Andrade. Só isso explica a conversa que ele teve comigo antes mesmo de começar a partida. Nós ainda estávamos fazendo aquecimento muscular no campo, batendo fotografias, dando entrevistas, quando Sansão se aproximou de mim e já foi advertindo: – Olha aí, Almir, eu estou de olho em você. Muito cuidado que eu vou te expulsar. Eu nunca dei bola para juiz nem para o Sansão, que é forte, nem para Armando Marques que é metido a enérgico”.
          No vestiário, no intervalo, o clima era muito pesado. Nós tínhamos consciência de que não dava mesmo para vencer o Bangu. O Flamengo ia sofrer uma goleada humilhante. Além de nos golear o Bangu queria ensaiar um baile. Mas eu já havia decidido, eles não vão dar a volta olímpica. A essa altura o campo era uma zorra. Recebi o troco na hora. Como os banguenses queriam brigar, topei a parada. Olhei o bolo de jogadores e disse comigo mesmo:  “Tudo o que estiver com camisa de listras brancas e vermelhas é inimigo.
         Comecei a distribuir socos e pontapés. Eu estava cercado por jogadores do Bangu, mas fui enfrentando todos eles. E todo mundo entrou na briga. Veio a polícia e acabou com a festa”.  Tudo isto aconteceu no dia 18 de dezembro de 1966, um dia que o torcedor banguense jamais esquecerá, pois foi o último título que o clube conquistou em toda a sua história.

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