quarta-feira, 8 de março de 2023

MUHAMMAD ALI




Muhammad Ali-Haj, nascido Cassius Marcellus Clay Jr. (Louisville, 17 de janeiro de 1942  Scottsdale, 3 de junho de 2016),[2] foi um desportista pugilista estadunidense. É considerado um dos melhores da história do esporte, eleito "O Desportista do Século" pela revista estadunidense Sports Illustrated em 1999.[3]

Biografia

Infância e carreira amadora

Cassius Marcellus Clay, Jr., nasceu em 17 de janeiro de 1942 em LouisvilleKentuckyEstados Unidos. O mais velho de dois irmãos, tinha o mesmo nome do pai, Cassius Marcellus Clay, Sr., que fora nomeado em homenagem ao político abolicionista homônimo e era pintor de outdoors. Sua mãe, Odessa O'Grady Clay, era empregada doméstica. Cassius Sr. era metodista, mas aceitou que Odessa convertesse Cassius Jr. e seu irmão Rudolph "Rudy" Clay (depois renomeado Rahman Ali) à Igreja Batista. Ele era descendente de escravos afro-americanos do sul estadunidense e também de irlandeses e ingleses.

Clay teve seu primeiro contato com o boxe por intermédio do chefe de polícia e técnico de boxe Joe E. Martin, em Louisville, que o encontrou com 12 anos batendo em um ladrão que estava roubando sua bicicleta. Ele disse ao oficial que ele estava fazendo "whup" no ladrão.[4] O oficial lhe disse para aprender boxe. Nos seus últimos quatro anos de carreira amadora, Clay tinha treinado com Chuck Bodak.

Clay ganhou seis títulos Golden Gloves de Kentucky, dois títulos Golden Gloves nacionais e o título nacional do Amateur Athletic Union, e a medalha de ouro do Meio-Pesado nas Olimpíadas de Verão de 1960, em Roma.[5] Conquistou o título mundial de campeão dos pesos pesados, ao derrotar Sonny Liston em 1964. Perdeu o título mundial em 1967 e foi proibido de atuar por três anos e meio por ter se recusado a lutar no Vietnã. Recuperou o posto ao ser reabilitado, mas logo perdeu para Joe Frazier. Ganhou de novo o título em 1974 ao vencer George Foreman em luta realizada no Zaire (retratada no documentário "Quando éramos Reis" e no filme "Ali"), perdeu-o em 1978 para Leon Spinks e em seguida retomou-o de Spinks. Retirou-se do boxe quando ainda era campeão.

The Super Fight

Embora banido de lutas sancionadas, Ali liquidou um processo de $ 1 milhão contra o produtor de rádio Murray Woroner aceitando $ 10 000 para aparecer em uma luta privada de fantasia encenada contra o campeão aposentado Rocky Marciano. Em 1969, os boxeadores foram filmados lutando por cerca de 75 rodadas de um minuto; eles produziram vários resultados potenciais.[6] Um programa de computador supostamente determinou o vencedor, com base em dados sobre os lutadores, juntamente com as opiniões de aproximadamente 250 especialistas em boxe. Versões editadas da luta foram exibidas nos cinemas em 1970. Na versão norte-americana Ali perdeu no nocaute simulado no 13º round, mas na versão europeia Marciano perdeu por cortes, também simulados.[7] Ali sugeriu que o preconceito determinou sua derrota na versão norte-americana. Ele teria dito, brincando: "Esse computador foi feito no Alabama."[8]

No entanto, esta aposentadoria foi de curta duração; Ali anunciou seu retorno para enfrentar o novo campeão mundial Larry Holmes na disputa pelo cinturão em uma tentativa de ganhar o campeonato de pesos pesados uma quarta vez sem precedentes. A luta foi motivada pela necessidade de dinheiro de Ali, que recebeu 8 milhões de dólares, o maior cachê da História do esporte até então. O escritor de boxe Richie Giachetti disse: "Larry não queria lutar contra Ali. Ele sabia que Ali não tinha nada, sabia que seria um horror." A luta ocorreu em 2 de outubro de 1980, com Holmes facilmente dominando Ali, que estava enfraquecido pela medicação para a tireoide que ele tinha tomado para perder peso. Giachetti chamou a luta de "Terrível ... o pior evento esportivo que já tive que cobrir." O ator Sylvester Stallone, que estava assistindo a luta na primeira fila ao lado do ringue, disse que “Foi como assistir a autópsia de um homem que ainda estava vivo.” O treinador de Ali, Angelo Dundee, finalmente parou a luta no intervalo após o 11° assalto, a única luta que Ali perdeu por nocaute. O nocaute técnico marcou o fim do prestígio de Ali.

Apesar das súplicas para se aposentar definitivamente, Ali lutou uma última vez em 11 de dezembro de 1981, em Nassau, Bahamas, contra Trevor Berbick, perdendo por pontos numa decisão de 10 assaltos. Ali foi o único boxeador que até hoje suportou 12 assaltos com o maxilar quebrado (luta com Ken Norton, em 1973).[carece de fontes]

Convicções religiosas e posições políticas

Converteu-se ao Islamismo (mudando de nome para Muhammad Ali-Haj) e lutou contra o racismo.

Ali dizia que a primeira vez em que ouviu falar da Nation of Islam foi quando estava competindo pelas Golden Gloves em Chicago, em 1959. Foi à sua primeira reunião na Nation of Islam em 1961. Continuou a frequentar as reuniões, mas manteve esse envolvimento fora do conhecimento do público. Em 1962, encontrou-se com Malcolm X, que viria a se tornar seu mentor espiritual e político.[9] Na época de sua primeira luta com Liston, membros da Nation of Islam, incluindo Malcolm X, eram vistos em seu entourage. Isso levou a uma reportagem do Miami Herald, publicada pouco antes da luta, revelando que ele havia aderido à Nation of Islam, o que quase levou a luta a ser cancelada.

Muhammad Ali pode ser considerado o primeiro esportista a aliar esporte e política. Exemplo disso foi seu desempenho antes da luta com George Foreman no Zaire. Ali utilizou todo seu conhecimento do pan-africanismo para se colocar como o lutador da África, enquanto Foreman ficou como símbolo da alienação negra estadunidense, episódio este retratado no filme "Quando Éramos Reis", de 1974. Ali entrou para história da década de 1960, quando se negou a lutar na Guerra do Vietnã. "Nenhum vietcongue me chamou de crioulo, porque eu lutaria contra ele?". Em 1967, juntamente com Martin Luther King (de quem era amigo), esteve em Louisville para apoiar a luta da população local por moradia, quando declarou:[10]

"Por que me pedem para vestir um uniforme e me deslocar 10 000 milhas para lançar bombas e balas no povo marrom do Vietnam, enquanto os negros de Louisville são tratados como cachorros, sendo-lhes negados os mais elementares direitos humanos? Não, não vou viajar 10 000 milhas para ajudar a assassinar e queimar outra nação pobre para que simplesmente continue a dominação dos senhores brancos sobre os povos de cor mais escura mundo afora. É hora de tais males chegarem ao fim.

Fui avisado de que essa atitude me custaria milhões de dólares. Mas eu já disse isso uma vez e vou dizer de novo. O inimigo real do meu povo está aqui. Não vou desgraçar minha religião, meu povo ou a mim mesmo tornando-me um instrumento para escravizar aqueles que estão lutando por justiça, liberdade e igualdade…

Se eu pensasse que a guerra traria liberdade e igualdade a 22 milhões de pessoas do meu povo, eles não precisariam me obrigar, eu me juntaria a eles amanhã mesmo. Não tenho nada a perder por sustentar minhas crenças. Então, vou para a prisão, e daí? Nós estivemos na prisão por 400 anos."[10]

Monitoramento pela NSA

Em uma operação secreta denominada "Projeto MINARET", a National Security Agency (NSA) monitorou as comunicações de várias personalidades estadunidenses, incluindo Ali, os senadores Frank Church e Howard BakerDr. Martin Luther King, Jr., além de jornalistas proeminentes e outros que criticavam as ações dos Estados Unidos no Vietnã.[10][11] A falta de supervisão judicial do programa de espionagem levou até mesmo a própria NSA a concluir que Minarete era "desonroso, senão totalmente ilegal".[11]

Últimos anos

Muhammad Ali

Nos últimos anos de vida, Muhammad Ali teve a doença de Parkinson, diagnosticada no início da década de 1980. Em 2010, foi a Israel para tratar a doença. O trabalho foi feito com células-tronco adultas. Os testes até então realizados com ratos tiveram sucesso, mas sua eficácia em seres humanos ainda será testada.

Em 2001, Will Smith interpretou Muhammad Ali no filme Ali.

Por diversas vezes, anunciou-se a luta entre Ali, o campeão mundial dos profissionais, contra o cubano Teófilo Stevenson, campeão mundial dos amadores e campeão olímpico, mas, devido a problemas técnicos e políticos, essa luta jamais ocorreu.

Em 2010, Muhammad junto com a cantora Christina Aguilera fizeram a propaganda em prol das vítimas do terremoto que destruiu o Haiti.

Morte

Muhammad Ali morreu nos Estados Unidos, aos 74 anos, no dia 3 de junho de 2016, vítima de uma doença degenerativa.[1] Estava internado com graves problemas respiratórios em um hospital de Phoenix, cidade onde vivia, quando sua morte foi declarada. A família divulgou nota à imprensa que dizia que "depois de uma batalha de 32 anos contra o mal de Parkinson, Muhammad Ali se foi aos 74 anos".[12]

Em 4 de junho de 2016, um porta-voz da família informou, em entrevista coletiva, que Muhammad Ali morreu por conta de um choque séptico devido a causas naturais não especificadas.[13]

Repercussão

Nos Estados Unidos, Dave Zirin, autor de um livro sobre Ali – "What’s My Name, Fool? Sports and Resistance in the United States" – e editor de esportes da revista The Nation, acompanhou o funeral de Ali em Louisville, ocasião em que declarou que:[14]

"Este funeral é, em vários aspectos, o último ato de resistência de Muhammad Ali, porque faz o país se juntar para honrar o mais famoso muçulmano do mundo, no momento em que um candidato presidencial concorre com um programa marcado por um bigotismo abjeto contra o povo muçulmano, e o outro candidato é alguém que orgulhosamente tem apoiado as guerras no Oriente Médio."

No mesmo dia 4 de junho, Zirin também publicou um artigo no The Nation intitulado "'I Just Wanted to Be Free': The Radical Reverberations of Muhammad Ali".

Funeral

 Vídeos externos
"Muhammad Ali Memorial Service"C-SPAN[15]

funeral do boxeador foi dividido em duas partes. Em 9 de junho de 2016, uma cerimônia islâmica tradicional foi realizada, com orações em árabe e marcada por discursos que destacaram a trajetória política e social de Ali. Cerca de 15 mil pessoas participaram do Jenazah (funeral, em árabe), realizado também em Louisville.[16]

Em 10 de junho de 2016, na segunda parte de seu funeral, o atleta foi sepultado no Cave Hill Cemetery. Antes de seu sepultamento, foi realizado um cortejo fúnebre pelas ruas de Louisville, que terminou no cemitério; lá, uma cerimônia privada para a família foi realizada. Entre os escolhidos para carregar o caixão estavam os lutadores Lennox LewisGeorge Foreman e Mike Tyson, além do ator Will Smith. Um evento público, com a presença de cerca de 20 mil pessoas foi realizado à tarde, no centro de Louisville.[16]

O cortejo foi realizado por cerca de 90 minutos. O carro fúnebre, acompanhado por limusines com familiares e convidados, percorreram os locais mais importantes da cidade para a carreira do lutador. Foi um trajeto de cerca de 30 quilômetros acompanhado por milhares de pessoas. O único ponto de parada foi em frente ao Ali Center, um memorial do atleta. Em todas as ruas, centenas de pessoas levaram cadeiras de praia e guarda-sóis para aguardar a passagem do cortejo.[16]

Um dos momentos mais marcantes do cortejo foi a passagem pela rua onde Ali cresceu. Uma multidão se formou nos dois lados da Grand Avenue e gritava “Ali, Ali, Ali”. Outros corriam atrás do carro, apenas para tocá-lo ou beijá-lo.[16]

Cada carro que integrou o cortejo trazia desenhos de borboletas no vidro dianteiro, em referência à maneira como o próprio Ali descrevia seu estilo de lutar:[16]

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